A engenharia que salva árvores
- Revista Viva Nova Lima

- 15 de nov.
- 3 min de leitura
Técnica de transplante de árvores ganha força no Brasil e revela uma nova mentalidade urbana que concilia inovação, sustentabilidade e respeito pela natureza

Durante décadas, o desenvolvimento urbano seguiu um caminho previsível: sempre que uma estrada precisava ser ampliada ou uma nova construção surgia, árvores — muitas delas centenárias — eram sacrificadas em nome do progresso. Porém, um movimento crescente mostra que esse paradigma começa a mudar. Em vez de derrubar, engenheiros, paisagistas e órgãos públicos passaram a levantar árvores inteiras, raízes e solo incluídos, para que continuem vivas em novos espaços.
A imagem de um guindaste içando um tronco monumental, acompanhado por equipes especializadas, parece saída de um filme futurista. Mas essa cena tornou-se cada vez mais comum em projetos que incluem desde obras viárias até reformas paisagísticas e iniciativas de pesquisa. O objetivo é um só: cuidar do patrimônio arbóreo sem interromper o avanço da infraestrutura.
Uma prática antiga que ganha novos significados
Embora o Japão seja um dos países mais citados quando o assunto é preservação de árvores, graças à sua tradição de profundo respeito pela natureza e à integração dessa mentalidade ao planejamento urbano, o transplante arbóreo não pertence exclusivamente à cultura japonesa. A prática é registrada em diversas partes do mundo há séculos, seja por motivos simbólicos, religiosos ou práticos.
No entanto, o Japão se destaca por ter transformado essa técnica em uma política de urbanismo: árvores adultas são movidas com frequência durante obras, evitando cortes desnecessários e garantindo sombreamento, biodiversidade e continuidade paisagística.
Outros países, como a Índia, também avançaram na área, desenvolvendo tecnologia própria para mover árvores de grande porte em projetos públicos. A essência é a mesma: proteger o que é vivo, mesmo quando a cidade precisa mudar.
Como se move uma árvore de toneladas
O transplante de árvores não é uma operação simples. Ele exige planejamento técnico e profissionais especializados, como agrônomos e operadores de maquinário pesado e uma série de etapas que começam muito antes da árvore deixar o solo original.
Entre os principais procedimentos estão:
Avaliação detalhada da saúde da árvore
Preparação do torrão, que envolve o cuidado para preservar grande parte das raízes
Estabilização do tronco para evitar danos estruturais
Içamento com guindastes ou escavadeiras adaptadas
Transporte controlado
Replantio e período de aclimatação, com irrigação, adubação e acompanhamento constante
Espécies de raízes superficiais tendem a se adaptar melhor. As de raízes profundas demandam mais tempo e cuidados. Em comum, todas passam por um processo que, apesar de custoso e demorado, oferece uma segunda chance de vida.
No Brasil, uma solução que se consolida
Por aqui, o transplante arbóreo deixou de ser raridade e passou a integrar as estratégias de sustentabilidade urbana em diferentes frentes:
Infraestrutura pública
Cidades como São Paulo e Belém já utilizam a técnica durante obras viárias e intervenções de grande porte, evitando a supressão de espécies maduras.
Paisagismo urbano
Parques e áreas verdes têm recebido árvores adultas, acelerando a criação de espaços sombreados e ecologicamente equilibrados — um ganho imediato para a população.
Pesquisa e inovação
A Embrapa investiu em equipamentos específicos para transplante de árvores, ampliando as possibilidades de estudo e conservação de espécies nativas.
Setor privado
Empresas especializadas em engenharia e paisagismo, como Ambiences Engenharia e Serv-San, oferecem o serviço para empreendimentos que desejam alinhar desenvolvimento e responsabilidade ambiental. A prática, antes vista como extravagante, hoje é encarada como alternativa viável, sobretudo em cidades que buscam qualidade de vida, arborização eficiente e mais resiliência climática.
Mais do que técnica: uma mudança cultural
Preservar uma árvore centenária é preservar história, sombra, fauna e bem-estar. É reconhecer que a natureza não precisa ser descartada para que a cidade avance e que desenvolvimento e sustentabilidade podem coexistir com inteligência.
Ao adotar o transplante arbóreo como parte das soluções urbanísticas, cidades brasileiras mostram que estão prontas para uma nova etapa: um modelo que valoriza o meio ambiente não como obstáculo, mas como fundamento de uma vida coletiva mais saudável e equilibrada.
Porque quando escolhemos mover uma árvore em vez de derrubá-la, estamos movendo também o futuro em direção a cidades mais verdes, humanas e conectadas ao seu próprio tempo.
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